




Após um período de tensão global causado pelo aumento de tarifas pelos Estados Unidos e pela resposta firme da China, ambos os países sentaram-se à mesa para uma negociação mais razoável, distensionando a crise e trazendo, ao menos no curto prazo, um ambiente de maior moderação e previsibilidade. Esse cenário contribui para a redução dos riscos de uma deterioração mais acentuada da economia global. Sempre que há diminuição dos riscos, as economias emergentes se beneficiam com o fluxo de capitais, em busca de maior rentabilidade em detrimento da segurança. Após a desvalorização do real no início de abril, quando chegou a se aproximar de R$ 6 por dólar, a moeda brasileira voltou a se valorizar, impulsionada pela melhora no ambiente externo, e tem buscado o patamar dos R$ 5,50. Um fator que contribui para a valorização do real é o aumento da taxa de juros brasileira. No início de maio, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu por mais um aumento na Selic, elevando-a de 14,25% para os atuais 14,75% ao ano, sem uma sinalização clara de término do ciclo de alta. Ao mesmo tempo, o Federal Reserve (FED), nos Estados Unidos, optou por manter sua taxa de juros, o que amplia o diferencial em relação ao Brasil e atrai capital especulativo. Além disso, a taxa de juros real, já descontada a inflação, está em torno de 9%, tornando-se altamente atrativa aos investidores.
A inflação brasileira é a principal preocupação do Banco Central. Em abril, acumulou alta de 5,53% nos últimos 12 meses. A expectativa é que a inflação continue subindo, atingindo o pico próximo de 6% em setembro, antes de recuar para cerca de 5% até o final do ano. Ainda
assim, esse nível permanecerá acima do teto da meta inflacionária, de 4,5%, o que praticamente elimina a possibilidade de inversão na curva de juros neste ano.
A economia brasileira, por sua vez, começa a dar sinais de impacto diante do aumento dos juros e da inflação elevada. Até recentemente, os relatórios do BOMR indicavam números setoriais favoráveis no primeiro bimestre. No entanto, o dado de março para o varejo, com queda de 1,2% na comparação anual, revela que as vendas começaram a perder força. Mesmo considerando a média bimestral de fevereiro e março, para neutralizar os efeitos do calendário do carnaval, o crescimento foi modesto, de 0,5%, com recuo de quase 1% nos supermercados. O segmento de veículos, que apresentava crescimento de dois dígitos, avançou apenas 3,4% nessa média bimestral, segundo o IBGE.
Complementando os dados do varejo, a FecomercioSP divulgou a taxa de inadimplência na capital paulista, que alcançou 20,6% das famílias com contas em atraso em abril, marcando a segunda alta consecutiva. No mês anterior, a taxa era de 19,3%. Entre julho do ano passado e março deste ano, a inadimplência oscilava em torno dos 19%, mas agora indica o início de uma tendência de maior desequilíbrio nas finanças domésticas. Mesmo com a menor taxa de desemprego da história para um primeiro trimestre — 7% — e com um nível recorde de recursos disponíveis para os trabalhadores, a inflação alta e persistente, somada ao aumento dos juros, tem desgastado gradualmente o poder de compra das famílias. O crédito, importante ferramenta de complementação de renda, segue em expansão, porém em ritmo mais lento. Nos três primeiros meses do ano, a concessão de crédito às famílias brasileiras cresceu 4,1%.
O setor de Turismo nacional tem demonstrado resiliência diante desse cenário. De acordo com a FecomercioSP, houve crescimento de 6,6% em março, com alta acumulada de 5,8% no ano, e praticamente todos os segmentos registraram faturamento superior ao observado em 2024. Porém, em algum momento, haverá algum reflexo – negativo – para o setor. A economia brasileira dificilmente passaria incólume por um cenário com inflação acima de 5% por mais de seis meses e taxa de juros próxima a 15% ao ano. O impacto, inevitável, tende a ocorrer de forma gradual. Os dados
DADOS IMPORTANTES:
1
Inflação: Segundo o IBGE, a inflação desacelerou em abril, passando de 0,56% para 0,43%. No entanto, o grupo de maior peso no consumo das famílias — alimentos e bebidas — apresentou alta de 0,82%. Em maio, haverá nova pressão inflacionária com a mudança da bandeira tarifária da energia elétrica, da verde para a amarela. Além disso, a inflação de serviços, menos sensível a choques externos, segue acima de 6%, o que demanda atenção.
*LTM - Últimos doze meses
Legenda: Verde, Vermelho e PretoOs dados ficam melhores, piores e iguais do que no mês anterior.
de março e abril já indicam essa sinalização negativa, marcando o início de um processo de desaceleração.
A expectativa para 2025 ainda é positiva, embora com ritmo menor: após um crescimento de 3,4% em 2024, a projeção atual é de expansão de 2% para este ano. O governo, por sua vez, divulgou uma expectativa superior à do mercado, de 2,5%, número que não surpreenderia caso se confirme. Vale lembrar que há forte estímulo fiscal em curso, o que tende a beneficiar a economia em curto prazo, mas também mantém a inflação elevada e os juros altos por mais tempo.
2
Juros ao consumidor: Com o aumento da Selic, os juros cobrados aos consumidores também subiram. De acordo com o Banco Central, a média geral passou de 53,1% ao ano em dezembro para 56,4% em março. No crédito pessoal, a taxa subiu de 45,9% para 48,1% no mesmo período.
3
Safra agrícola: As estimativas para a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas seguem em alta. A expectativa atual é de uma safra de 328,4 milhões de toneladas — crescimento de 12,2% em relação ao ano anterior — com aumento de 3% previsto para milho e soja, beneficiando a economia no primeiro semestre.
Confiança do Consumidor (ICC): O índice caiu para o menor nível desde agosto de 2022. Em abril, houve queda de 3,6%, passando de 115,2 pontos em março para 111 pontos. Na comparação anual, a retração foi de 14,3%. São quatro quedas consecutivas, refletindo a insatisfação da população com a inflação elevada e o crédito mais caro, impactando o poder de compra.
Confiança do Empresário do Comércio (ICEC): O índice também recuou, atingindo 97,6 pontos em abril — menor nível desde junho de 2021. Houve retração de 0,5% em relação a março e queda de 10,3% em relação a abril do ano anterior. Os empresários demonstram preocupação com os impactos dos juros altos sobre o fluxo financeiro e o consumo das famílias, agravados pela inflação.
Índice de Confiança do Consumidor (ICC) e Empresário Comercial (ICEC)
Consumer Confident Index (ICC) and Comerce Businessman (ICEC)
fev/16 jul/16 dez/16 mai/17 out/17 mar/18 ago/18 jan/19 jun/19 nov/19 abr/20 set/20 fev/21 jul/21 dez/21 mai/22 out/22 mar/23 ago/23 jan/24 jun/24 nov/24 abr/25
Note: O ICC e ICEC variam de 0 a 200. De 100 a 200 pontos é considerado um patamar otimista, e abaixo dos 100 pontos pessimista. Apesar dos indicadores serem da cidade de São Paulo, eles seguem na tendência do que está acontecendo no resto do País já que a cidade, maior do Brasil, representa 11% do PIB nacional.
Maio pegou os players do Turismo brasileiro de surpresa com a decisão do governo de aumentar o IOF para compras no Exterior com cartão de crédito e outras operações financeiras. Para o passageiro individual o barulho na imprensa acende o alerta de possíveis preços mais elevados para viajar ao Exterior, mas na prática a alíquota de 3,5% no IOF não deve ser um impedimento para as viagens internacionais.
No caso das empresas do setor, a diferença é grande, pois as agências e operadoras já pagam 7% de IRRF sobre remessas e agora teriam mais 3%. O que será compensado no aumento dos preços. Aumento “pequeno”, mas que intensifica a desvantagem em relação às grandes multinacionais presentes no Brasil, que não têm esse imposto.
Mais uma dor de cabeça causada pela política (via Ministério da Economia) e que mostra a falta de entendimento do governo em relação ao Turismo e o pouco prestígio da área nas decisões.
AZUL ANUNCIA CHAPTER 11 E ACORDO COM UNITED E AMERICAN AIRLINES
A Azul Linhas Aéreas, empresa fundada por David Neeleman e que tem voos regulares para os Estados Unidos (Fort Lauderdale, Orlando) e a Europa (começa Madri em duas semanas), entrou com pedido de recuperação no Chapter 11 americano.
A companhia acredita que será um processo curto, pois já ingressa com vários acordos assinados, inclusive com sua maior arrendadora de aeronaves, a Aer -
Cap, e com a United e a American Airlines (isso mesmo, as duas grandes concorrentes americanas), que se comprometem a um investimento, na saída do Chapter 11, de até US$ 300 milhões. Outros US$ 650 milhões estariam garantidos por outros acordos. Vale lembrar que a Azul já tem uma parceira de codeshare com a United (que tem ações e é investidora da empresa brasileira) e a American com a Gol. A terceira empresa americana desse quebra-cabeças, a Delta, tem uma joint-venture com a Latam Airlines.
• Operadoras como Azul Viagens e CVC Corp (com as marcas CVC e Trend) comemoram o aumento de vendas e as promoções por conta da abertura do Epic Universe, novo parque da Universal Orlando. Brasileiro adora novidades e já está se programando para ir conferir todos os mundos do Epic. A expectativa do trade de Orlando é ter o mercado brasileiro consistente e com aumento moderado durante todo o ano. O Brasil é um dos países que mantiveram crescimento no número de turistas para os Estados Unidos este ano e a inauguração de mais um parque em Orlando, um dos destinos preferidos dos turistas brasileiros.
• Mais uma boa notícia diz respeito à saída da Gol do processo de recuperação judicial americano, o Chapter 11. O fim do processo deve ocorrer nos próximos dias, já que o projeto de saída foi aprovado pela Corte americana.
• A próxima edição do BOM Report será a edição completa do Brazilian Overview e traremos como destaques:
• A nova malha aérea internacional do Brasil: com crescimento de 15% sobre 2024
s Lista de operadoras, representantes e diretores de empresas aéreas no Brasil
s Dados econômicos do País
s Dados do Turismo brasileiro segundo a WTTC e Phocuswright
s Perfil dos brasileiros que visitam os Estados Unidos
s Pesquisas exclusivas sobre Viagens de Luxo, Uso da Internet para Planejar Viagens, entre outras.
Relatório produzido pela PANROTAS e pela FecomercioSP com o objetivo de servir como norteador de decisões para destinos e empresas nacionais estrangeiras. Para mais informações ou esclarecimentos, entre em contato com ri@fecomercio.com.br ou redacao@panrotas.com.br