Brazilian Overview Monthly Report - PT - SETEMBRO 2025

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PRINCIPAIS FATOS

A economia brasileira segue em processo de desaceleração. É o que mostra a divulgação mais recente do IBGE sobre o PIB, que registrou variação de 0,4% no segundo trimestre em relação ao período imediatamente anterior, após o avanço de 1,3% no primeiro trimestre. Esse resultado já era, em parte, esperado, principalmente em razão do forte desempenho da agropecuária concentrado nos três primeiros meses do ano. Para corroborar esse cenário, o IBC-Br, que funciona como uma prévia do PIB, apresentou a terceira queda consecutiva e recuou 0,5% em julho. Um fator positivo para a economia foi divulgado em setembro: a inflação apresentou queda média de 0,11%, puxada pelo recuo de 0,46% no grupo alimentação e bebidas, o de maior peso no indicador. É verdade que, em agosto, a redução da conta de energia elétrica — em função do bônus de Itaipu concedido aos consumidores — exerceu papel relevante. No entanto, em uma perspectiva mais ampla, não se observam pressões significativas vindas dos preços de alimentos, habitação ou transportes, que compõem os três principais grupos do IPCA. Assim, a tendência é de uma inflação mais amena nos próximos meses. Com a inflação futura convergindo mais rapidamente para o centro da meta, ou ao menos abaixo do teto de 4,5%, o Banco Central, mesmo tendo decidido na última reunião do Copom manter a taxa de juros em 15% ao ano, já pode sinalizar algum movimento de antecipação no ciclo de redução da Selic — talvez já nas primeiras reuniões de 2026, e não apenas no meio do ano. Essa redução será fundamental não apenas para dar nova tração à economia, mas também para contribuir com a reorganização das finanças das famílias. Isso porque, segundo a Confederação

Nacional do Comércio (CNC), a inadimplência registrada em agosto, de 30,4% dos lares, foi a maior da série histórica iniciada em 2010. Certamente há efeitos sobre o consumo: ainda que muitas famílias optem por postergar a solução do problema, uma parcela significativa deixa de gastar no comércio e em serviços para acumular recursos e quitar compromissos em atraso.

Esse cenário já se reflete no desempenho do varejo, que vem registrando ritmo mais fraco de vendas. Em julho, houve retração de 2,5% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o IBGE, puxada principalmente pela queda de 9% nas vendas de veículos. O que tem ajudado a contrabalançar essa queda são os setores básicos de consumo, como supermercados e farmácias, que, embora tenham apresentado aumento relativamente pequeno, garantiram algum fôlego às vendas no último dado disponível.

Na indústria, o resultado de julho foi praticamente de estabilidade, com ligeiro avanço de 0,2%. Esse desempenho, contudo, foi fortemente influenciado pela indústria extrativa, que cresceu 6,3%, enquanto a indústria de transformação recuou 0,9% em relação a julho de 2024. Já os serviços registraram crescimento de 2,8% no mesmo mês. No caso específico do turismo, segundo levantamento da FecomercioSP, o primeiro mês do segundo semestre mostrou expansão de 4,3% no comparativo anual. Embora essa variação seja inferior à dos meses anteriores, já se esperava desaceleração diante do esfriamento da economia e da forte base de comparação do segundo semestre do ano passado. Ainda assim, o setor vem se sobressaindo, mostrando resiliência importante para a atividade econômica. Apesar da taxa de juros elevada, o que tem impedido uma deterioração mais rápida da economia é o

mercado de trabalho, que permanece, de acordo com o IBGE, em mínima histórica de desocupação. Isso garante renda disponível relevante para as famílias que, combinada à inflação mais baixa, tende a permitir uma recomposição gradual do consumo, o pagamento de dívidas em atraso e até a abertura de espaço para gastos com lazer e entretenimento. O cenário, portanto, é de atenção, mas não de alarme. O que se observa é um ritmo menor de crescimento, e não uma recessão. Conforme o Boletim Focus, do Banco Central, o PIB deve crescer em torno de 2% tanto neste quanto no próximo ano, sem grandes alterações em relação às projeções anteriores. Assim, o país segue avançando, ainda que em ritmo modesto. No campo externo, o conflito comercial com

DADOS IMPORTANTES:

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Turismo: levantamento da FecomercioSP mostra alta de 9,7% no transporte aéreo de passageiros em julho, melhor desempenho entre os setores. A ANAC confirmou recorde histórico de passageiros transportados no mês.

RESUMO AGOSTO/2025

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os Estados Unidos continua no radar. Apesar da melhora significativa em relação ao momento do anúncio, em meados de julho, o risco de escalada ainda existe e poderia trazer impactos mais severos para a economia brasileira. Até o momento, porém, os efeitos foram minimizados por medidas como a realocação de exportações para outros mercados, a retirada de itens da lista inicial de tarifas de 50% e o crédito do governo para ajudar empresas afetadas. De forma geral, o Brasil segue crescendo, mesmo que de forma mais lenta, mas com muitos desafios pela frente, tanto no cenário externo quanto no interno. Entre os principais pontos de atenção estão o aumento da dívida pública e o déficit fiscal, que devem se ampliar neste e no próximo ano, pressionados também pelo calendário eleitoral.

Desemprego: a taxa de desemprego foi de 5,2% no segundo trimestre, com renda disponível dos trabalhadores chegando a R$ 353 bilhões — recorde da série histórica.

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Câmbio: o real voltou à casa de R$ 5,30 por dólar. Embora o mercado projete R$ 5,60 no fim do ano, a tendência é de queda, impulsionada pela combinação de dólar mais fraco (com expectativa de redução de juros nos EUA) e valorização do real, atraindo capital estrangeiro devido aos juros elevados no Brasil.

ÍNDICES DE CONFIANÇA:

Confiança do Consumidor (ICC): O índice recupera o folego e cresce 2,7% em agosto, indo aos 111,9 pontos, nível similar ao que se viu ao longo do 2º trimestre. No entanto, o atual patamar está 12,1% abaixo do mesmo mês de 2024. A inflação mais baixa consegue dar um fôlego no orçamento das famílias, mas os juros elevados ainda pressionam o pagamento das dívidas e dificultam uma recuperação mais sólida da confiança

Confiança do Empresário do Comércio (ICEC): Em agosto, houve queda de 2,9%, ao passar de 102,8 pontos para 99,8 pontos. No contraponto anual, há uma queda de 8%. Os empresários seguem receosos em relação ao andamento da economia que mostra nitidamente uma desaceleração. E com a taxa de juros elevada, é mais um complicador para as compras das famílias.

Índice de Confiança do Consumidor (ICC) e Empresário Comercial (ICEC)

Consumer Confident Index (ICC) and Comerce Businessman (ICEC)

Note: O ICC e ICEC variam de 0 a 200. De 100 a 200 pontos é considerado um patamar otimista, e abaixo dos 100 pontos pessimista. Apesar dos indicadores serem da cidade de São Paulo, eles seguem na tendência do que está acontecendo no resto do País já que a cidade, maior do Brasil, representa 11% do PIB nacional.

VIAGENS E TURISMO

A Braztoa – Associação Brasileira das Operadoras de Turismo realizou um levantamento com seus associados, sobre as vendas e comportamentos do viajante no primeiro semestre deste ano. É um importante termômetro para saber como as viagens de lazer estão se comportando no Brasil, em meio aos desafios econômicos e políticos do País e do mundo.

“Este levantamento evidencia um cenário de instabilidade regulatória, econômica e geopolítica que impactou diretamente o setor. É importante ressaltar que mesmo diante do aumento do IOF (para compras internacionais) e de mudanças relevantes nos principais destinos internacionais, o Turismo brasileiro permanece forte e estratégico para a economia. As operadoras vêm respondendo com inovação e diversificação de produtos, mas é imprescindível que avancemos em direção a um ambiente regulatório estável e previsível”, analisou Fabiano Camargo, presidente do Conselho da Braztoa.

IOF: ENTRE RETRAÇÃO, PREJUÍZOS

E CAUTELA, SETOR SENTE OS EFEITOS DA ALTA DO IMPOSTO

Neste primeiro semestre, o aumento do IOF para compras no Exterior encareceu pacotes, gerou insegurança e afastou parte dos consumidores:

•19% das operadoras relataram que o aumento encareceu significativamente as viagens, assustando e desestimulando os consumidores,

• 32% apontaram impactos ainda mais severos, com prejuízos financeiros já registrados,

• Para 23%, houve alterações no comportamento dos clientes como redução de orçamento, encurtamento de estadias ou troca de destinos, mas sem reflexos significativos nas vendas destes.

Hoje a maioria já acha que o impacto do aumento de IOF foi mais pontual e que os viajantes absorveram esse novo custo a mais.

ESTADOS UNIDOS: ENTRE PREOCUPAÇÕES E AJUSTES DE FOCO

As recentes mudanças envolvendo viagens para os Estados Unidos, em especial as taxas adicionais e exigências para o visto, bem como a insegurança na entrada do país, além de questões geopolíticas, já refletem no comportamento do mercado brasileiro.

Ainda que apenas 3% registraram cancelamentos de viagens já compradas, 45% das operadoras apontaram queda nas vendas futuras para o destino. Além disso, 24% ainda não observaram impacto direto nas vendas, mas relatam preocupação crescente dos clientes, enquanto 21% afirmam não ter percebido qualquer alteração até o momento.

A boa notícia é que a US Travel Association, em negociação com o Governo Trump, conseguiu adiar o início da cobrança da taxa extra de US$ 250, que começaria em outubro. Agora, não há uma data para essa implementação, e a US Travel luta para que ela sequer saia do papel. Todos na expectativa, mas já aliviados com o adiamento do começo da cobrança.

Quando perguntado se a operadora percebeu impactos em novas compras de viagens consideradas apenas as questões geopolíticas, não relacionadas diretamente ao Turismo:

• 48% indicaram redução nas vendas,

• 24% destacaram que os clientes estão atentos e preocupados, mas sem mudanças efetivas, e 21% disseram não identificar impacto.

Esse contexto já começa a provocar ajustes:

• 10% das operadoras passaram a direcionar esforços para promover outros destinos – ou seja, alternativas aos Estados Unidos

• e 38% relatam que os próprios clientes vêm buscando alternativas de forma espontânea. Ainda assim, 38% afirmam manter o foco nos EUA, enquanto 14% seguem avaliando como lidar com possíveis redirecionamentos.

Segundo o Visit Orlando, a permanência média dos turistas estrangeiros na cidade caiu de 14 para 11 noites, com o Brasil, Reino Unido e México mantendo índices de crescimento em relação a 2024. Na CVC Corp, a visita média caiu para 8 dias no destino. Ou seja, o brasileiro está ficando menos tempo e tendo de escolher que parques visitará. O tíquete médio caiu 15% no lazer. Já na venda de passagens aéreas, houve aumento de 49% no ano, principalmente por causa do Mundial de Clubes Fifa e do aumento das viagens a negócios e de quem tem casa na Flórida. É preciso um trabalho para mostrar valor agregado, custo-benefício e facilidades para o viajante brasileiro ficar mais tempo nos Estados Unidos em geral. O brasileiro vai continuar viajando para os EUA, destino prioritário para diversos grupos e gerações, especialmente famílias. Alto custo (sem a percepção de valor agregado) e entraves para a entrada ou concessão de visto são os principais inibidores para o brasileiro viajar para qualquer país, assim como as questões de segurança e conflitos regionais.

TEMPORADA DE NEVE:

REPERCUSSÕES E AJUSTES

Outro ponto de atenção no primeiro semestre foi a temporada de neve e esqui, que teve o Chile como destaque. Após o alto volume de brasileiros e a repercussão negativa de 2024, marcada por superlotação, longas filas e problemas de infraestrutura nos centros de esqui, o mercado já sinaliza impactos. Para 12% das operadoras, houve diminuição da procura em função direta desses episódios, enquanto 15% afirmaram que os clientes menciona-

ram o ocorrido, mas sem reflexo expressivo nas vendas. A maior parte, 46%, não percebeu impactos, e 27% destacaram que a demanda permanece alta, mesmo diante das críticas.

Ainda assim, o tema trouxe mudanças estratégicas. Questionadas sobre ajustes para 2025, 27% das operadoras afirmaram ter diversificado a oferta, ampliando opções para além dos destinos mais tradicionais, ainda que sem deixá-los de promover.

No mesmo percentual, outras apontaram que os próprios clientes já vêm espontaneamente buscando alternativas e destinos menos conhecidos. Por outro lado, 38% seguem apostando nos destinos consagrados, como Chile e Bariloche, sem alterações significativas em sua estratégia.

VERÃO EUROPEU: ALTAS TEMPERATURAS E SUPERLOTAÇÃO SOB OBSERVAÇÃO

A temporada de verão europeu também foi analisada, considerando os impactos das experiências negativas registradas em 2024 e novamente em 2025, como temperaturas extremas, superlotação e relatos de desconforto.

Os efeitos sobre as vendas foram mínimos e muito limitados: apenas 7% das operadoras apontaram queda na procura, enquanto 13% afirmaram que ainda é cedo para mensurar o real impacto. Apesar de não terem influenciado diretamente nas vendas, as preocupações se refletiram na percepção dos viajantes:

• 27% das operadoras relataram comentários ou reclamações sobre as condições da temporada passada,

• e 20% já receberam queixas de clientes que estão viajando neste ano.

Quando analisadas possíveis mudanças de comportamento, mesmo sem queda efetiva na demanda, o cenário mostra nuances. Apenas 7% das operadoras identificaram clientes escolhen-

do destinos alternativos dentro da Europa ou em regiões próximas, o mesmo percentual apontou ajustes no período da viagem para evitar meses mais quentes. Outros 17% observaram ambos os movimentos, mudança de destino e de período. A maior parte, entretanto, 63%, não percebeu alterações significativas.

ARGENTINA: PERCEPÇÃO DE CUSTO-BENEFÍCIO EM FOCO

A Argentina continua sendo um destino que historicamente apresenta oscilações na demanda, muito atreladas à percepção de custo-benefício por parte dos viajantes, influenciada por fatores como variação cambial, inflação local e valorização da moeda frente ao real. No primeiro semestre de 2025, essas variáveis estiveram em destaque, impactando a atratividade do país.

Dentro deste período, para 53% das operadoras, a Argentina foi avaliada como pouco atrativa sob a ótica do custo-benefício (o destino está caro para brasileiros), enquanto 23% ainda a consideram atrativa, ou seja, interessante mesmo diante de aumentos e algumas incertezas. Outros 23% avaliaram o país de forma neutra, sem destaques significativos, positivos ou negativos.

Considerando a natureza flutuante do destino, 32% dos operadores acreditam que a percepção dos viajantes pode mudar ao longo do segundo semestre, enquanto 48% afirmam que ainda é cedo para tirar conclusões definitivas.

BRASIL – PARÁ: BELÉM

EM FOCO COM A COP 30

Belém, apontado como principal destino emergente no Anuário Braztoa 2024, passa a ser acompanhada de perto e ganha atenção especial em 2025, ano-chave para avaliar como a visibilidade da COP 30, que será realizada em novembro, pode impactar o interesse e as vendas para a cidade. No primeiro semestre, a percepção das operadoras indica que o impacto direto sobre vendas de viagens a Turismo para a cidade ainda é limitado: 38,7% afirmam não ter percebido mudanças significativas, enquanto apenas 12,9% registraram aumento claro no interesse ou nas vendas relacionado à visibilidade do evento. Outros 3,2% apontam crescimento restrito a nichos específicos.

Por outro lado, há sinais de cautela: 22,6% das operadoras observaram retração no interesse, influenciada por fatores como aumento de preços, desafios logísticos ou incertezas relacionadas ao evento, mesmo para viagens que não aconteceram no período do evento (COP30) e 41,9% expressaram receio de que possíveis falhas de organização ou impactos negativos durante a COP30 possam prejudicar a imagem do destino no futuro.

Apesar disso, uma parcela menor já está se preparando para aproveitar a oportunidade, com 6,45% comercializando pacotes específicos e outros 6,45% considerando o evento como uma grande oportunidade para o pós-COP30.

Relatório produzido pela PANROTAS e pela FecomercioSP com o objetivo de servir como norteador de decisões para destinos e empresas nacionais estrangeiras. Para mais informações ou esclarecimentos, entre em contato com ri@fecomercio.com.br ou redacao@panrotas.com.br

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