




Uma bomba econômica está se aproximando do Brasil. Desde o início do tarifaço, em abril deste ano, promovido pelo presidente norte-americano Donald Trump, o país estava em uma situação relativamente mais confortável. Enquanto os Estados Unidos implementaram tarifas superiores a 50% para alguns países, para o Brasil o percentual ficou em 10%, o que, à época, foi considerado uma vitória. No entanto, três meses depois, neste início de julho, o Brasil entrou na mira e foi decidido o acréscimo de 50% nas tarifas para a importação de produtos brasileiros.
Um ponto importante e que dificulta essa negociação é a falta de clareza nas propostas. Na carta enviada pelo governo americano, há a menção de um suposto déficit comercial com o Brasil — o que não condiz com a realidade. Os Estados Unidos mantêm, historicamente, um superávit expressivo na balança comercial com o país, ou seja, lucram com essa relação. Além disso, há um componente político-ideológico evidente na decisão, sem que estejam claramente definidas as ações brasileiras que estariam violando acordos comerciais. Há uma grande apreensão entre os empresários brasileiros, não apenas pelos impactos diretos sobre os setores exportadores, mas também pelas consequências de médio e longo prazo para a dinâmica da economia nacional — como o desinvestimento e eventuais demissões. A nova tarifa de 50% entrará em vigor a partir de 1º de agosto e, até a conclusão desta análise, em meados de julho, não houve qualquer sinal de revogação ou adiamento.
O impacto já começa a ser sentido no câmbio, que vinha em trajetória de queda — com o dólar oscilando na casa dos R$ 5,40 — e voltou a subir, atingindo R$ 5,50. A apreensão continua e, caso a medida se concretize no início de agosto, espera-se uma pressão ainda maior sobre o real, com redução nas relações comerciais.
Esse cenário também é prejudicial para a taxa de juros. O Banco Central, que aumentou a taxa básica (Selic) de 14,75% para 15% ao ano na reunião de junho, seguirá monitorando a flutuação cambial e seus possíveis efeitos na inflação. Caso haja uma desvalorização mais acentuada da moeda brasileira, aumenta a chance de novos ajustes para cima nos juros, o que traria um freio ainda mais forte à economia.
Pelo menos, o índice de inflação tem se mostrado positivo até o momento. Em junho, segundo o IBGE, os preços médios subiram 0,24%, acumulando 5,35% nos últimos 12 meses. A expectativa é de que esse acumulado suba até setembro, para depois iniciar um ciclo de arrefecimento, possivelmente caindo para abaixo de 4,5% no primeiro semestre do próximo ano. Esse cenário seria bastante favorável para que o Banco Central pudesse, ainda este ano, começar a vislumbrar a possibilidade de redução da Selic. No entanto, a guerra comercial em curso complica essas previsões.
Com os juros mais altos, a economia brasileira já dá sinais de desaceleração — o que, de certa forma, era esperado. De acordo com o IBGE, as vendas no comércio cresceram 1,1% em maio, a indústria avançou 1,8% no mesmo mês e o setor de serviços teve alta de 2,5%.
No entanto, o turismo — segundo a FecomercioSP — segue em trajetória diferente, demonstrando resiliência. Em maio, o setor cresceu 7,9%, acumulando alta de 7% no ano, com todas as atividades apresentando resultado positivo. Destinos tradicionais como Bahia, Rio de Janeiro e Ceará continuam em bom momento, mas, em maio, o destaque foi o Rio Grande do Sul, que cresceu quase 50%, impulsionado pela base fraca de comparação, uma vez que, em maio de 2024, a região havia sido severamente afetada por uma enchente catastrófica.
O cenário só não é mais negativo devido à manutenção de um mercado de trabalho aquecido. A taxa de desemprego no Brasil está em 6,2%, no trimestre
encerrado em maio — o menor nível da série histórica para esse período. Além disso, o rendimento médio dos trabalhadores também está em seu ponto mais alto. Com a inflação menos volátil do que no início do ano, isso tem garantido a sustentação do poder de compra das famílias no comércio, serviços e, principalmente, no turismo.
Assim, a economia brasileira segue em linha com as previsões: crescendo, mas com sinais claros de desaceleração para o segundo semestre — ainda sem risco iminente de recessão. Além dos conflitos globais — como os de Israel e Irã, e Rússia e Ucrânia — que aumentam a incerteza, a guerra comercial entre Brasil e Estados Unidos representa um fator crítico. Como os EUA são o segundo maior parceiro comercial do país, há riscos de desaceleração mais
DADOS IMPORTANTES:
Inflação: A inflação brasileira foi de 0,24% em junho, encerrando o primeiro semestre com uma alta acumulada de 2,99%. Um ponto de destaque no mês foi a deflação no principal grupo de consumo das famílias, alimentação e bebidas, que recuou -0,18%.
As pressões inflacionárias agora são pontuais, e não mais amplas como se observou no final do ano passado e início deste ano, o que contribui para aliviar o bolso do consumidor.
profunda, já que não é simples encontrar mercados alternativos com a mesma capacidade de compra. Pode até haver, no curto prazo, uma desova de estoques no mercado interno, aliviando os preços. Porém, no médio e longo prazo, a tendência é de redução nas áreas plantadas, queda na compra de máquinas e equipamentos, menor número de contratações — o que pode levar a um esfriamento mais prolongado da atividade econômica. Por isso, é essencial observar o cenário como um todo.
Portanto, o Brasil seguirá, nas próximas semanas, vivendo a incerteza das negociações com os Estados Unidos. Espera-se bom senso e uma solução diplomática para amenizar ou cancelar a proposta tarifária. Até lá, é hora de apertar os cintos e enfrentar a turbulência.
Recorde de Turistas Internacionais: O Brasil atingiu um recorde de 5,3 milhões de turistas internacionais no primeiro semestre, representando um crescimento de 48,2% em relação ao mesmo período do ano anterior. No entanto, a maioria das entradas está concentrada em turistas provenientes de países vizinhos, sobretudo a Argentina. Com a volta da exigência de vistos para americanos, canadenses e australianos em abril, foi registrada uma queda na chegada desses turistas no segundo trimestre.
IOF: O governo decidiu aumentar a alíquota do IOF, o que impactará os custos das viagens internacionais. A compra de moeda estrangeira, por exemplo, que antes tinha alíquota de 1,1%, passa a ter 3,5%, valor que também será aplicado de forma unificada a gastos no cartão de crédito, débito, pré-pago e remessas ao exterior.
Confiança do Consumidor (ICC): O índice apresentou leve aumento de 1% em junho quando comparado com o mês anterior e vai aos 112,9 pontos. No entanto, o atual patamar está 11,1% abaixo do mesmo nível do ano passado. Essa melhora gradual recente tem a ver com uma inflação menos apertada, o que traz certo alívio no bolso do consumidor.
Confiança do Empresário do Comércio (ICEC): Em junho, o indicador voltou a ficar acima dos 100 pontos, no patamar otimista, ao crescer 1,6% e atingir os 101 pontos. No contraponto anual, contudo, há uma queda de 5,6%. Confiança do consumidor e dos empresários tem caminhado juntos e estão se recuperando mês a mês numa forma lenta. Apesar do aumento da taxa de juros, a inflação mais moderada tem sido fundamental para recompor o poder de compra das famílias e, por consequência, manter o ritmo de vendas positivas no comércio.
Índice de Confiança do Consumidor (ICC) e Empresário Comercial (ICEC)
Consumer Confident Index (ICC) and Comerce Businessman (ICEC)
Note: O ICC e ICEC variam de 0 a 200. De 100 a 200 pontos é considerado um patamar otimista, e abaixo dos 100 pontos pessimista. Apesar dos indicadores serem da cidade de São Paulo, eles seguem na tendência do que está acontecendo no resto do País já que a cidade, maior do Brasil, representa 11% do PIB nacional.
O Brasil consolida sua posição como potência turística global em 2025, com números que impressionam e superam todas as expectativas. Os dados de julho confirmam uma trajetória de crescimento sólido e consistente, impulsionada por recordes históricos em faturamento, chegadas internacionais e receita de divisas.
O Turismo nacional bateu recorde em maio, faturando mais de R$ 17 bilhões. De janeiro a maio, o setor acumula R$ 90,4 bilhões de faturamento, o valor mais alto já registrado na série histórica iniciada em 2012, representando crescimento de 7% na comparação anual.
Paralelamente, o Brasil registrou recorde na entrada de divisas internacionais no primeiro semestre: visitantes estrangeiros injetaram US$ 4,187 bilhões na economia nacional (mais de R$ 23 bilhões), crescimento de 12,9% em relação ao mesmo período de 2024.
Entre janeiro e junho, o País recebeu 5.332.111 visitantes estrangeiros, crescimento de 48,2% em relação ao mesmo período do ano passado e o melhor resultado da série histórica para o primeiro semestre. Este número representa 77,3% da meta prevista no Plano Nacional de Turismo 2024-2027 para este ano. Se o ritmo for mantido, o Brasil poderá ultrapassar, já em 2025, a meta de 8,1 milhões de turistas originalmente estabelecida para 2027.
A aviação brasileira também apresenta números robustos. Junho foi o mês mais movimentado de 2025, com 200.132 pousos e decolagens nos 50 principais aeroportos do País. A média diária ultrapassou 6.670 movimentos, com tendência de alta já visível nas primeiras semanas de julho, apontando para um patamar acima dos 7 mil voos diários.
As companhias aéreas apostam forte na expansão internacional. A Latam anunciou em julho ampliação de cerca de 20% no número de voos internacionais operados a partir do Brasil até janeiro de 2026, elevando a oferta de 370 para 440 voos diretos internacionais por semana. A expansão inclui cinco novas rotas e reforço de sete já existentes, conectando o país a 25 destinos no Exterior.
A Gol, recém-saída do Chapter 11, definiu meta importante: ter 25% da malha composta por operações internacionais até 2029. Em julho, a companhia registrou o maior movimento internacional de sua história, com crescimento de 57% em relação ao ano anterior. Atualmente, conecta 83 destinos em 12 países, com 188 rotas, sendo 43 internacionais.
Apesar dos números positivos, o setor enfrenta desafios significativos. O Brasil possui hoje a segunda maior taxa básica de juros real entre as 40 principais economias globais, com a Selic nominal em 15% ao ano. Segundo Fabio Godinho, CEO da CVC Corp, “não podemos esperar que o mercado siga crescendo com juros a 15%”, prevendo um segundo semestre difícil com desaceleração do consumo.
O aumento do IOF para 3,5% em operações de câmbio representa outro obstáculo para o Turismo internacional. A medida encarece viagens ao exterior e aumenta custos das agências de viagens, gerando preocupação no setor sobre a competitividade das empresas nacionais.
O mês de julho trouxe uma notícia transformadora para o Turismo nacional: a Prefeitura do Rio sancionou a Lei Complementar nº 284, autorizando a
concessão do Parque do Legado Olímpico para a construção do Projeto Imagine. O complexo de entretenimento de 1,18 milhão de metros quadrados, considerado o maior da América Latina, prevê investimento de R2,7bilhões, com estimativa de gerar 143 mil empregos e movimentar R$ 274 bilhões ao longo dos 30 anos de concessão. Tendências e perspectivas
As férias de julho confirmaram tendências importantes. Pesquisa do Instituto Locomotiva revelou que 53% dos brasileiros pretendiam tirar férias no mês, com aumento de 12% na procura por hospedagens. O volume de buscas por passagens rodoviárias dobrou na primeira semana de julho, indicando forte demanda por viagens domésticas.
O Turismo para o Marrocos cresceu 36% entre brasileiros em julho, demonstrando a diversificação de destinos internacionais. Destinos tradicionais como Gramado, Rio de Janeiro e Maceió figuram entre os mais buscados para as férias de inverno.
O que pode impactar o Turismo brasileiro nos próximos meses?
1 – Política monetária restritiva: Com juros a 15%, a maior pressão sobre o consumo pode afetar especialmente viagens de lazer e corporativas.
2 – Aumento do IOF: A alíquota de 3,5% encarece significativamente viagens internacionais, podendo reduzir a demanda por destinos no Exterior.
3 – Nova taxação de dividendos: O PL 1.087/2025, que tributa lucros e dividendos acima de R$ 50 mil mensais, pode impactar agências de viagens que utilizam essa forma de remuneração.
4 – Instabilidade geopolítica global: Conflitos internacionais e tensões comerciais podem afetar rotas e custos de viagens internacionais.
APOSTAS PARA O SEGUNDO SEMESTRE
Turismo doméstico – Com o IOF mais alto e juros elevados, espera-se alta em destinos nacionais, beneficiando regiões como Nordeste, Sul e interior de São Paulo.
Aviação regional – Aeroportos como Belém (+43,6% vs 2019), Salvador (+24,6% vs 2019) e Porto Seguro (+38,7% vs 2019) mostram potencial de crescimento.
Turismo de negócios – Eventos como a COP30 em Belém devem impulsionar o segmento corporativo no Norte do País.
Cruzeiros – Mantêm-se como opção de custo-benefício atrativo, especialmente para famílias.
Turismo de experiência – Crescimento de 42% na escolha de destinos conforme oportunidades, indicando maior flexibilidade dos viajantes.
O setor de Turismo brasileiro demonstra resiliência. Apesar dos desafios macroeconômicos, os fundamentos permanecem sólidos: mercado de trabalho aquecido (desemprego em 6,2%), crescimento da renda real dos trabalhadores e inflação mais controlada.
A recuperação do Rio Grande do Sul (+48,6% em maio) após as enchentes de 2024 simboliza a capacidade de superação do setor. Estados como Bahia (+12,7%), Rio de Janeiro (+12%) e Amazonas (+10,8%) mantêm trajetória positiva.
Para o segundo semestre, espera-se consolidação do crescimento, com destaque para o movimento doméstico e eventos corporativos. A COP30 em Belém representa oportunidade única para projeção internacional do Brasil como destino sustentável.
Relatório produzido pela PANROTAS e pela FecomercioSP com o objetivo de servir como norteador de decisões para destinos e empresas nacionais estrangeiras. Para mais informações ou esclarecimentos, entre em contato com ri@fecomercio.com.br ou redacao@panrotas.com.br